"Ó Ana, tu tens de aprender a saber viver!"
Tenho ouvido muito esta frase ultimamente, por parte das pessoas que mais me amam, usualmente quando estou perante situações que me deixaram magoada e/ou incrédula. A expressão é geralmente acompanhada de uma aparência e tom de voz ora resignados/tristes ora irritados/frustrados. Porque realmente já são muitas vezes. Compreensível.
Só que eu continuo a tentar deslindar o que será isto de saber viver. Até agora, apenas consegui apurar que envolve não dizer aquilo que realmente se pensa e muito menos que se irá dizer a terceiros, presumir que as pessoas não são boas quando o aparentam ser e manter uma cara de póquer em todos os momentos. E depois quando penso nisso sou eu que oscilo entre a tristeza, raiva e frustração, porque recuso-me a aprender a ser assim mas sei perfeitamente que sou eu que tenho de mudar, não é o mundo à minha volta.
É que às vezes pergunto-me se as pessoas alguma vez olham para o quadro geral. Passo tempos infindos a pensar por que raio alguém agiria deste modo. Não consigo ultrapassar a mesquinhez. E quando olho à minha volta e ouço um a falar mal doutro e vejo a tremenda inveja... Por todo o lado, online e offline, só gente a queixar-se de tudo e mais alguma coisa! Percebo que está tudo ligado. É impossível. Esta gente não pode estar a ver as coisas como elas realmente são. Estão completamente iludidas, só pode!
Posso não saber muito nesta vida mas há algo de que tenho a certeza absoluta: Aquilo que todos nós tomamos como cliché é muitas vezes a mais pura verdade e pouca gente parece conseguir discernir o verdadeiro significado, descartando-o como "coisas bonitas de se dizer".
Isto é o que eu sei hoje: Está a chegar o Natal. Até agora, muito sinceramente, custava-me mas não era nada que não conseguisse suportar. Só que parece que este ano as coisas mudaram. Toda a gente (ou quase) está mais pobre. E então ponho-me a pensar - é desta. É desta que as pessoas vão ligar menos às prendas e mais aos entes queridos. E aí então bate a saudade, de uma forma e intensidade imensuráveis. Porque dava tudo para o ter na minha vida.
Tenho estado a pensar e apercebi-me que, para lidar com a morte de uma das duas pessoas que considero indispensáveis na minha vida, fiz um excelente trabalho em convencer-me que ele tinha partido para uma viagem e que voltaria a vê-lo, se bem que pudesse demorar um pouco. Só que quanto mais tempo passa, mais me apercebo que, independentemente da veracidade da analogia, ele não está cá. E que o 'um pouco' na verdade soa interminável e depois faço birra e choro porque só quero abraçá-lo, vá lá, quem quer que mande na companhia aérea por favor permita uma breve interrupção na viagem porque eu só quero, eu PRECISO de o ter ao pé de mim!!!
É verdade, é ridículo. A mente tem coisas muito estranhas. E só quem passa por isso sabe. O que eu sei é que dava tudo para levar mais uma palmada. Para ouvir a sua voz. Para sentir o seu abraço. E, perante isso, nada mais tem o significado que costumava ter.
Ora se tanta gente tem consigo as pessoas que mais amam e que mais as amam, como raio podem dar tamanha importância a coisas supérfluas? Como é que as vêem sequer como indispensáveis??
Não quero prendas. Há muitos anos que digo que não quero prendas e não quero mesmo. Mas do fundo do coração. E se fizessem mesmo muita questão de dar alguma coisa, gostaria de qualquer coisa feita pela pessoa, como por exemplo um cartão. Algo para onde pudesse olhar durante o ano e recordar e saber que foi feito especialmente para mim. Não quero nada. Só quero alguém. Bons alguéns.
E com isto e muito mais, dou por mim a oscilar entre um aparente mundo utópico e a realidade. E então invade-me uma tristeza imensa. Porque me apercebo do quão fácil é enganarem-me porque eu não sei viver. Basta dizerem-me algo e eu acredito. E ao descobrir e aceitar que não existem pessoas transparentes, perco completamente a confiança em mim mesma e no mundo. E fico triste. Muito triste.
Portanto se este Natal me quiserem dar alguma coisa... Dêem-me um abraço. Mas genuíno.
Boas festas a todos.
Beijinhos,
Ana
Amor mesmo, mas mesmo eterno.