segunda-feira, 30 de julho de 2012

Querido Humberto,


Faz hoje 5 anos que perdi uma parte de mim e desde então tenho andado por aqui a tentar sobreviver da melhor forma. Deus tem sido muito meu amigo e tem posto coisas e pessoas novas no meu caminho, tem-me ajudado a superar-me a mim mesma, tem colocado obstáculos na minha frente que antes nunca diria capaz de superar mas há sempre alturas em que é difícil concentrar-me nisso e a dor da perda, a saudade, volta a tomar conta de mim. Não é preciso ser uma data marcante. É algo que está sempre comigo e 'bate' a qualquer momento.

Não diria que se tornou mais fácil de suportar com o tempo. Apenas se tornou mais fácil de empurrar para um cantinho da minha mente. Quando essa saudade se liberta da sua pequena prisão, a dor é tão intensa quanto antes. Todo aquele desejo de ter mais um dia para te ver, segurar na tua cara como costumava fazer com a barba acabadinha de fazer, abraçar-te mais uma vez - volta tudo.

Mas uma coisa é certa. Eu amo-te, pai, com todos os teus defeitos e virtudes, sinto saudades do teu riso malandro, das tuas palmadas, até de quando te zangavas. Sinto verdadeiramente saudades de tudo o bom e mau e porquê? Porque tu tinhas um coração verdadeiramente bom. Nada do que fazias era por maldade. E quando isso é tão raro nos dias de hoje, só me faz valorizá-lo mais mas também ter mais saudades ainda.

A vida nunca mais será a mesma, isso é certo. Mas se Deus me pôs  e me mantém aqui, é porque Tem algo para mim e eu não posso ignorar ou desprezar isso. Tenho de continuar a viver como tenho vivido até aqui: certa de que o meu querido pai foi numa viagem, uma viagem muito, muito longa, e que eu irei revê-lo. Apenas tenho de ser paciente.

Obrigada por tudo o que me ensinaste, por palavras e principalmente por gestos. Obrigada pela tua paciência, pela tua sabedoria, pela tua beleza. Não tenho dúvidas de que estás bem. Só espero que, quando a minha viagem chegar ao fim, tenhas tanto orgulho em mim como eu tenho em ti.

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