Resolvi que este slogan seria mais do que isso este ano. Está na hora de parar de esperar que o mundo mude e começar eu a fazer por mim o melhor que posso. Já não era sem tempo.
Cedo percebi que, para levar isto a cabo, seria necessário que se cumprissem dois requisitos essenciais:
1. Eu quisesse fazer isto por mim e não por imposições ou pressões externas;
2. Eu estivesse bem ciente da disciplina que este grando passo implica e aceitá-la de coração aberto.
Tudo isto começou quase como uma brincadeira, um pensamento aleatório cerca de uma semana antes do ano novo. Pensei para comigo... Será que é desta? E fiz as duas perguntas principais: Quero? Consigo?
Sabia que o conseguir estava dependente da minha força e resistência, que acreditava piamente não possuir. Mas depois percebi que só eu estava no meu próprio caminho e que tinha pelo menos de tentar, devia isto a mim mesma! Se conseguisse, espectáculo! Até que enfim!! Se não, paciência, só me desiludiria a mim mesma e tentaria mais tarde.
Não vale de nada fazê-lo para agradar a terceiros. Mais cedo ou mais tarde, isso não será suficiente. Nem por causa das imagens ou mensagens escritas acerca das consequências do acto. Até se querer mesmo, não vale a pena.
PARTIDA... LARGADA... FUGIDA!!
Não fumo desde a meia-noite e cinco minutos do dia 1/1/2012. Portanto, há cerca de 70 horas. Tem sido difícil... Acho que ainda não estou plenamente convencida de que tem sido real. Parece que me tenho estado a iludir, a desviar a atenção do inevitável. Não sei quanto tempo vou aguentar, mas espero que muito... Quiçá para sempre!
Nestes três dias já tenho notado mudanças espantosas. Não sei, talvez até seja psicológico, mas que as sinto, sinto.
Escrevo isto por duas razões. Primeiro, para me manter no caminho certo - para ir relendo e, dessa forma, recordando o meu objectivo. Olhos no prémio e tal. Em segundo lugar, com a esperança de que estas palavras ajudem alguém. Por isso, quando me refiro a 'ti' ao longo do "artigo", estou a dirigir-me tanto a ti que estás a ler estas palavras como a mim.
Ao escrever, apercebi-me que estes pensamentos são válidos para muitas coisas, não apenas para deixar de fumar. Sei que quer se queira largar o tabaco, perder peso que ganhaste porque te viraste para a comida como conforto, deixar as drogas, etc - tudo isto são vícios e o princípio para os ultrapassar é o mesmo.
É que sempre que te submetes ao teu vício, o mesmo acontece: sabes que estás a fazer-te mal e, portanto, vais-te habituando a abstrair-te do acto, recusando-te a lidar com ele. Crias justificações, sendo a mais comum "eu mereço".
"Passo a vida a fazer sacrifícios, mereço este bolo."
"Apetece-me e pronto, deixem-me em paz!!"
"Tenho de fumar senão vou-me a ele!"
"Posso parar quando quiser, só que agora não quero."
"É o melhor para toda a gente. Ou isto, ou desato a barafustar com tudo e todos!"
"Isto não faz tão mal como dizem."
Desculpas, desculpas e mais desculpas. Já para não dizer completas mentiras. Vais repetindo-as ao longo da tua vida, até que se tornam verdades absolutas. Só que são verdades que mais ninguém compreende, senão paravam de te chatear. É apenas normal que desates a espingardar com as pessoas nessas alturas, pois claro, é que não há paciência! E então torna-se necessário esconderes o teu vício. Para não haver chatices, claro. Não que estejas a fazer algo de errado. Mas não tens que dar justificações a ninguém e assim ninguém se chateia.
Ilusão, tudo ilusão. O que estás a fazer destrói-te - e tu sabe-lo. O prazer momentâneo implica que tenhas de abdicar do prazer e gratificação a longo prazo. Mas recusas-te a enfrentar esse facto, porque isso significa assumir que és tu que te estás a autodestruir e, acima de tudo, que não te amas. Pois é. Se te amasses, não o farias - tão simples quanto isso. Se te amasses, quererias mais e melhor para ti. Não te sabotarias. Não minarias cada passo do teu caminho.
Se alguma coisa do que disse faz sentido para ti, talvez me queiras perguntar porque decidi tomar este passo agora. Porquê agora? Porque não continuar a adiar até dia de S. Nunca à Tarde? Pois... Acho que não sei bem responder. Suponho que, dado o primeiro dia do ano estar associado a um novo começo, como o ditado indica, pareceu-me o mais apropriado. E porque faltavam poucos dias até essa data. Mas acima de tudo acho que um dia acordei e me obriguei a lidar com os factos anteriormente descritos. Ao invés de fugir, como habitualmente, fiz-me perguntas muito difíceis como "Mas afinal porque é que eu não quero melhor para mim? Porque é que acredito que não mereço? Porque é que me aceito como fraca?" Obriguei-me a olhar para a realidade. Não para o mundo externo (isso já é uma história completamente diferente...), mas para mim mesma. Deixei as desculpas e as expectativas das outras pessoas à porta e perguntei-me o que é que eu queria. Respondi-me que queria ser feliz, mas não sabia como e tinha medo.
Medo do quê?
Do desconhecido.
Então começa pelo que conheces. Sabes o que queres - explora-o. Mas sobretudo conhece-te a ti mesma, tem a certeza do que és e do que queres.
E foi o ponto de partida.
Cada vez que perguntava a alguém como tinham conseguido parar de fumar, invariavelmente respondiam-me que o tinham feito da noite para o dia. Que um dia decidiram parar e o fizeram, pura e simplesmente. Ora eu não me via a fazer isso, pelo menos não sem um plano, porque tenho consciência que sou a minha maior sabotadora. Portanto, estes foram os passos que fizeram sentido para mim, de modo a poder antecipar-me aos obstáculos que inevitavelmente criarei.
1. Fazer uma lista das motivações
Mais cedo ou mais tarde, sei que me vou perguntar "Qual o objectivo de tudo isto? Apetece-me, vou fumar e pronto!"
Portanto, eu quero deixar de fumar porque:
a) Quero respirar melhor.
b) Quero ter um cabelo, uma pele, umas unhas e uns dentes mais bonitos e saudáveis, bem como todos os meus orgãos internos.
c) Quero estar livre de vícios. Que nada me controle.
d) Quero ter um hálito fresco e mucosidades de cor normal.
e) Prentendo oferecer-me uma limpeza e talvez até um branqueamento dos dentes se me aguentar sem fumar até ao meu aniversário.
f) Quero dar um melhor uso ao meu dinheiro e, se possível, poupar algum.
g) Porque mereço ser mais feliz e saudável.
h) A minha fé. Se não soubesse que há alguém que me ama independentemente das porcarias que eu faça, não sei se seria capaz.
2. Prever desculpas possíveis
Conhecendo-me como conheço, sei que vou tentar arranjar justificações para não me manter dentro do plano. Estas são das piores tentações que existem, porque fazem tanto sentido que se sobrepõem às motivações. A importância destas duas listas é enorme, porque chamam a atenção para duas características intrínsecas ao 'programa', se assim o posso chamar: humildade para perceber que as regras e a disciplina existem por uma razão e que não pode haver atalhos nem excepções.
a) "Já gastei dinheiro no maço... Agora tenho de o acabar né?"
O dinheiro que poupas ao não o fumar é infinitamente superior, porque depois de acabares esse, o mais certo é que irás comprar outro. E não vale mesmo a pena correr esse risco. Paras quando escolhes parar, não quando o maço acaba.
b) "Só mais um cigarro, começo depois."
Não existe isso do 'só mais um'. Enquanto tiveres essa mentalidade, estás a iludir-te. Tomaste uma decisão. Cumpre-a. Não te desiludas a ti mesma/o.
c) "Eu também não quero viver para sempre!!"
Não irás viver para sempre de qualquer das maneiras. Mas o mais provável é estares a escolher activamente se acabas os teus últimos dias/meses/anos relativamente saudável ou completamente dependente de terceiros. Salvo acidentes/doenças que não possas prever, é isso que está a acontecer a cada dia que permites que passe. E depois já é tarde para lamentar. Só existe o agora.
Nota: É importante criar estas duas listas enquanto estás calma/o, para poderes pensar com clareza e considerar bem todas as possibilidades, explorar todas as fraquezas e assumi-las, planear como as corrigir e, portanto, a longo prazo, aprenderes a amar-te mais e melhor. Se deixares algo ao acaso, mais tarde vais arrepender-te. A mente é muito perversa, especialmente quando entra em modo de sobrevivência.
3. Escolher uma data.
Nem muito perto, nem muito distante, de modo a dar tempo de aceitar a nova realidade mas, ao mesmo tempo, não correr o risco de cair no esquecimento ou no utópico e continuares a adiar o dia eternamente.
No meu caso, aproximadamente uma semana, ao longo da qual, a cada cigarro que fumava, perguntava-me "Será que este vai ser o último?" E como me sentiria se o fosse. Aceitar essa realidade progressivamente tornou a decisão mais fácil, bem como o cumprimento da mesma.
4. Mentaliza-te de que é precisa muita disciplina!
Vai ser difícil, mas não impossível. Vai haver alturas em que te apetecerá fazer a birra do "quero, posso e mando", mas é preciso humildade e respeito por ti mesma/o para perceber e aceitar que o que te queres dar no momento tem um preço demasiado elevado: implica negares-te algo que mereces, sob o falso pretexto de estares a ganhar, a lutar contra imposições externas, algo ou alguém que te quer tirar algo que mereces. Compreende e assume que és tu que estás a criar esse mito e age em conformidade.
5. Identifica as alturas mais críticas.
Seja pela altura do dia, seja por mecanismos de associação ou determinadas circunstâncias, há sempre momentos em que é mais difícil combater o vício. No meu caso, era a associação à comida. Nem que comesse uma migalha, teria de fumar logo de seguida. Aprender a reconhecer estas situações é meio caminho andado para as corrigir.
Ok, da teoria à prática. Chegou a data previamente estabelecida. E agora?
Das duas, uma: ou vais em frente ou desistes de tudo. Mas se desistires, assume-o. Não te enganes a ti mesma/o. Se inventares desculpas em vez de assumires as tuas fraquezas, estás novamente a alimentar as ilusões que te impedem de progredir e nunca conseguirás tomar o passo inicial e muito menos cumprir o plano a longo prazo.
1. Dá-te algum tempo.
Este passo foi muito importante para mim. Por exemplo, as perguntas que ia fazendo enquanto fumava naquela semana em que tomei a decisão. Aceitar a realidade progressivamente.
Durante a fase do planeamento, eu achava que queria mesmo seguir em frente, mas não tinha a certeza se o faria, porque sabia que, a partir do momento em que o fizesse obrigada, lá se ia a lista das motivações e começaria a disparar o rol das desculpas. Portanto, embora ainda não tenha a certeza se consigo, tenho definitivamente mais confiança do que antes. E sei que, se levar as coisas com calma, consigo.
2. Assume.
Passaram alguns dias e já assumiste o compromisso perante ti mesma/o. Muito bem, agora faz o mesmo com as pessoas que te rodeiam. Vais precisar do seu apoio.
É isso que estou a fazer agora. E, embora sejam palavras num ecrã e não proferidas presencialmente, para mim têm o mesmo efeito. Porque sei que ao fazer isto não terei problemas em falar cara-a-cara.
3. Testar alternativas.
Sejamos realistas, tens de encontrar algo para fazer quando te bate aquele desejo. Mas atenção, escolhe algo que não te crie ansiedade! Não vale a pena pores-te a jogar no computador ou na consola ou mesmo a ver um filme de suspense intensivo, pelo menos nos primeiros tempos. Algumas opções:
a) Livro
b) Cruzadex ou outros passatempos
c) Exercício
Detesto fazer exercício. Mas, de vez em quando, lá salto para a elíptica. É que acabo por me esquecer do esforço que estou a fazer porque fico completamente maravilhada, ou quase hipnotizada, pela facilidade que já tenho em respirar. Já não há assobios quando respiro fundo e muito menos dores! Isto em menos de três dias. De novo, talvez seja psicológico, mas que me sinto melhor sinto. E não há nada que valha a pena perder isto.
Outra alternativa frequente e, a meu ver, inevitável é a comida. Não dá para fugir, vais querer meter qualquer coisa à boca. E a pastilha só resulta às vezes. Portanto, rodeia-te de comida minimamente saudável. Eu ando sempre com frutinha e iogurte. Hmmmmm iogurte grego... Que delícia!!
4. Afastar as tentações.
Quando te sentires preparada/o para o próximo passo, tira o tabaco da mala, lava e arruma os cinzeiros, foge dos amigos fumadores, etc. Remove todas as tentações.
Ainda não tomei este passo na totalidade porque acredito que é cedo para o fazer. Quero sentir que isto é uma decisão minha. Portanto, quero continuar a andar com o tabaco na mala por uns tempos, saber que está lá e que sou eu que escolho não lhe tocar. É a maior prova de que sou capaz: sou eu que tomo a decisão porque é o melhor para mim, não porque me obriguei. Quando sentir que o vício já não chama tão activamente por mim, aí sim vejo-me livre de tudo.
5. Sempre alerta!
Quando comecei tudo isto, por incrível que pareça o que mais me assustava era que a dada altura começasse a fumar sem dar conta disso. E ainda é! Maldito vício de mão. É verdade, muitas vezes pegava no cigarro sem me aperceber, especialmente se estivesse a fazer outra coisa ao mesmo tempo, como falar ao telemóvel. São muitos anos de treino do faz-de-conta-que-não-aconteceu.
Portanto, especialmente enquanto não tomares o 4º passo, é muito importante estares sempre consciente do que estás a fazer. Isto aguça cada vez mais a disciplina, força-te a conheceres-te melhor, a assumires activamente as tuas acções e respectivas consequências e, portanto, a evitar qualquer tipo de descuido.
6. Praticar técnicas de relaxamento.
Estas são particularmente úteis e necessárias nas situações descritas no ponto 5 do Planeamento.
Voltemos ao meu exemplo pessoal, o da comida. Muitas vezes ainda estou a mastigar e já o desejo de fumar é irresistível. Nesses momentos, paro, respiro fundo, mastigo mais devagar e concentro-me em saborear a comida. E não é que resulta??
Obviamente tento fazer o mesmo em qualquer situação de stress. Paro, respiro fundo, olho para a situação objectivamente e analiso o que posso mudar; o que não posso, tento pôr para trás das costas. Isto tem feito maravilhas pelo meu sistema nervoso, embora ainda tenha de aperfeiçoar muito o método. Mas pelo menos já tenho a teoria!
Independentemente do que aconteça, o importante é identificar o que está a suceder e lidar com isso.
7. Celebrar as pequenas vitórias.
Este é um dos passos mais importantes, na minha opinião. Noto que quando festejo o facto de me ter conseguido acalmar antes de pegar no cigarro, tenho mais força da próxima vez que isso acontece. Porquê? Talvez porque, ao celebrar, estou a assumir activamente que sou capaz, o que significa que essa desculpa vai perdendo efeito. E, por outro lado, para fazer face ao prazer que recebes com as gratificações instantâneas que te fazem tanto mal.
Por isso, é muito importante saborear o momento, para ele ficar bem gravado na nossa memória - tanto a conquista como a sensação da mesma. Aos poucos, vais-te apercebendo que aquilo custou mas valeu bem a pena.
RECAÍDAS
Ainda não tive nenhuma, mas sei que estão à espreita.
Também sei que não acontecem do nada. Sucedem quando abdicas do controlo. Quando deixas de assumir activamente o que fazes e as consequências dos teus actos. Quando te rendes ou, simplesmente, "deixas andar".
1. RED ALERT!!
Como acabei de dizer, as recaídas não acontecem do nada. A meu ver, há uma espécie de escala de ansiedade que culmina na recaída. Por isso, o passo 5 do Planeamento e o 6 da Execução são tão importantes. Quanto mais te treinares para identificar as situações que te causam mais ansiedade e praticares contrapartidas, mais fácil se torna evitar este desfecho. No meu caso, já referi o falar ao telemóvel. Quase me torno num autómato. Portanto, nessas alturas, tenho de me afastar do tabaco. Um dia o meu cérebro já estará reprogramado, mas por enquanto é preciso ter todos os cuidados e mais alguns. Aprende como a tua mente e o teu corpo funcionam, para evitares chegar ao ponto crítico.
2. Pede ajuda!
Não tenhas medo nem vergonha de pedir ajuda aos teus amigos, seja que não fumem ao pé de ti, seja pegar no telefone quando nada parece resultar. Eles querem o melhor para ti. Mas tu também tens de o querer, antes de toda a gente. Portanto, tens de ter humildade para pedir ajuda e respeito por ti mesma/o para quereres o melhor para ti.
3. Pronto, já fostes.
O inevitável aconteceu. Tantos planos, tudo estudadinho, para nada. Acendeste o cigarro, inalaste o fumo e expiraste-o.
Nada de pensar "Pronto, não consigo." ou "tento noutra altura". Se há coisa que aprendeste com tudo isto é que só o presente conta. Se te dizes que tentas depois, então mentiste-te a ti mesmo quando tomaste a decisão inicial. O que te faz acreditar que no futuro algo será diferente?
Apaga o cigarro, aceita a derrota da batalha e prossegue com a tua guerra.
CONCLUSÃO
E pronto, fico-me por aqui. Não sei se leste realmente tudo mas espero que sim, porque cada palavra significa muito para mim.
Como disse algures no início, acredito que o princípio base é comum a vários tipos de vícios, portanto rogo-te: se estás a pensar em pegar num cigarro, não o faças. Se consideras fazer algo que sabes que está errado e te vai fazer mal, não tomes esse passo. A tua consciência é a tua melhor amiga - não a cales. Não arrisques a tua vida nem a tua felicidade. Não vale a pena.
Já viste bem o tamanho disto? Este texto enorme retrata o que eu considero ser necessário para combater algo que me atormenta secretamente há aproximadamente 10 anos. É muito, muito difícil encarar a realidade em vez de me entregar às desculpas. E nem sei se conseguirei. O que sei é que é infinitamente mais difícil e complicado do que quando fumava os primeiros cigarros convencida de que conseguiria parar quando quisesse.
Tu mereces ser feliz. Não deixes que nada nem ninguém te convença do contrário. Luta contra o gratuito, luta por ser feliz, não baixes os braços. No fundo, sabes que nada realmente bom vem facilmente. A verdadeira felicidade provem da conquista, saber que mereceste obter o que tens. Sê paciente. E, acima de tudo, ama-te. Cada vez mais.